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Aos 75 anos de vida e 60 de carreira, Leny Andrade ainda é a sensação e dá show

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ma das maiores cantoras do mundo, com sintetizou Áurea Martins no palco da filial carioca da casa Blue Note na noite de ontem, Leny Andrade completa hoje 75 anos de vida. Nascida em 26 de janeiro de 1943, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), Leny deu o habitual show, fazendo a festa de quem assistiu à apresentação em que a cantora recebeu Áurea Martins e Cris Delanno para duetos afetuosos e reverentes.

Aos 75 anos, Leny se impôs de imediato no show como a senhora cantora que sempre foi. Bastou Leny entrar em cena para cantar Só danço samba (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962) para o público ver e ouvir uma rara cantora brasileira que domina a arte do scat singing, o canto vocalizado do jazz. Desde sempre exuberante, mas atualmente maturado pelos 60 anos de estrada completados neste ano de 2018, o canto de Leny é a mais perfeita tradução da síntese de samba e jazz que gerou a Bossa Nova no mesmo ano de 1958 em que a cantora iniciou as atividades profissionais na noite carioca como crooner da orquestra de Permínio Gonçalves.

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A cantora Leny Andrade em show no Blue Note Rio (Foto: Mauro Ferreira)

Só danço samba foi a primeira música de refinado medley desenvolvido com Outra vez (Antonio Carlos Jobim, 1963) e Vivo sonhando (Antonio Carlos Jobim, 1963) até ser concluído com Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962). No momento, a intérprete se apresenta com menos mobilidade no palco – efeito de série de quatro tombos levados em casa – mas com a mesma destreza vocal, o mesmo apurado senso rítmico e a mesma sagacidade mental, a ponto de cantar sem precisar ler as letras das músicas (fato comum em shows de cantoras da geração de Leny).

No palco da filial carioca do Blue Note, marca historicamente associada ao jazz tão bem assimilado pelo canto de Leny, a artista estava em casa. Cantou músicas do cancioneiro sofisticado do antenado compositor Johnny Alf (1929 – 2010), dialogou de forma espontânea com a amiga Áurea Martins – com quem fez inebriante dueto em Eu e a brisa (Johnny Alf, 1968) antes de a convidada exibir a própria alta categoria vocal ao solar Preciso aprender a só ser (Gilberto Gil, 1973)– e brincou o show todo com os músicos do entrosado quinteto formado por Fernando Merlino (piano), Erivelton Silva (bateria), Jamil Joanes (baixo), José Arimatéa (flugelhorn) Júlio Merlino (saxofone).

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A cantora Leny Andrade em show no Blue Note Rio (Foto: Mauro Ferreira)

Leny, a propósito, é cantora que domina o idioma dos músicos. No palco, ela se porta como um músico. Por isso, quando a apresentação se transformou explicitamente em show de jazz, ao longo da exuberante abordagem de Wave (Antonio Carlos Jobim, 1967), Leny reiterou a afinidade com a arte do improviso em sintonia com a virtuosa banda. Wave foi o segundo número feito pela cantora com Cris Delanno, cantora convidada que entrou em cena para cair no suingue de Rio (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, 1963) com a anfitriã que lhe serve de referência na interpretação do cancioneiro da Bossa Nova.

Contudo, Leny Andrade também é senhora cantora quando dá voz a baladas carregadas de sentimento mais denso ou romântico. A abordagem de Iluminados (Ivan Lins e Vitor Martins, 1987) fez saltar a veia mais emocional da cantora. Música que Ivan Lins e Vitor Martins (os compositores de Iluminados) deram para a intérprete em 1984, Cantor da noite mostrou como Leny sabe combinar técnica e emoção com doses precisas sem que uma anule a outra. Esse mix perfeito foi refeito na estonteante interpretação do bolero cubano Nosotros (Pedro Junco, 1942), sublinhada por solo do flugelhorn de José Arimatéa. Na sequência, ainda no clima latino, Leny e banda realçaram o sabor da salsa no molho cubano de Una mañana.

Tudo acabou em samba-jazz com Batida diferente (Durval Ferreira e Maurício Einhorn, 1963) – veículo para jam aditivada com scats da cantora e solos dos músicos – e Alvoroço (João de Aquino e Ivor Lancellotti, 1973), música-título de álbum lançado há 45 anos por essa senhora cantora que, no bis, ainda iluminou O sol nascerá (Cartola e Elton Medeiros, 1964). Em 2018, como em 1958, Leny Andrade ainda é a sensação! (Cotação: * * * *)

Fonte: G1